A pessoa mais injustiçada desse mundo vos fala. Sou mais coitada do que Tom Hanks em "O Náufrago". Parei para pensar na minha condição de estagiária, estudante de jornalismo e mulher. Meus caros, tenho uma vida inteira de sofrimento pela frente. É de causar inveja aos sadomasoquistas.
Estagiário sofre. E a constituição é conivente com isso. A lei de 7 de dezembro de 1977 (tem que ser criação da ditadura!) regulamentada pelo Decreto 87.497 padroniza o estágio no Brasil. Sem vínculo empregatício, o estagiário não tem direito a salário (é opcional à empresa remunerá-lo), vale-refeição, vale-transporte, férias, quanto menos ao 13º. O único direito do estagiário é o cafezinho (ugh!) do escritório ou da redação.
Estudante de jornalismo também sofre (mas nem por isso abandona a arrogância e o espírito pseudocult). Uma pesquisa/reportagem que o grupo de estagiários da Editora Abril fez permite breve noção a respeito disso. Segundo tal reportagem, estimativas de 2005 apontam que 497 eram as faculdades de jornalismo no país. No mesmo ano, 53,5 mil estudantes ingressaram na área e 28 mil recém-formados foram lançados ao mercado. Considerando que o mercado de jornalistas já está saturado, a situação se revela alarmante. Onde o mercado enfiará tanto jornalista? Certamente, a maior parte deles ficará de fora das redações. Segundo o Observatório Universitário, apenas 12,5% dos graduados em jornalismo atuam na área.
ATENÇÃO: estudantes de jornalismo que fazem uso de fluoxetina, parem de ler esse post agora mesmo. O piso salarial de um jornalista é um empurrão para a gente cortar os pulsos, embora isso ainda soe como eufemismo. R$ 750,00 o piso mínimo; R$ 1.185,11 o médio; e R$ 2.029,00 o máximo. Não, um canudo não é garantia de futuro tranqüilo.
Mulher sofre mais do que estagiário e estudante de jornalismo junto. Apesar de ocuparmos 51,5% das vagas nas redações, o quadro de chefia está predominantemente em mãos masculinas. E nossa remuneração, segundo a Fenaj, é cerca de R$ 500,00 menor. Isso sem falar nos nossos castigos fisiológicos mensais, nas dores da depilação, na ditadura da beleza à qual estamos submetidas, na tripla jornada (trabalho, maternidade e cuidados com a aparência), no machismo maldito embutido na sociedade brasileira, na idéia da restrição feminina aos prazeres da vida...
Tirem suas próprias conclusões enquanto eu me consolo com uma travessa de lasanha.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário